“Sem o meio ambiente, não temos pesca”

Escassez de peixes e moluscos, comprometimento de reprodução de espécies e prejuízos aos manguezais, são alguns dos problemas da Lagoa Mundaú apontados pela Federação dos Pescadores do Estado de Alagoas (Fepeal). A situação, segundo a entidade, ocorre devido ao afundamento de solo que atinge cinco bairros de Maceió, incluindo a laguna. A estimativa é de que onze mil pessoas dependam da atividade na região para a sobrevivência.

“Sem o meio ambiente não temos pesca. É preciso que o poder público abra os olhos para a situação que nós pescadores estamos enfrentando. São onze mil pessoas dependendo da pesca para manter suas famílias, pescadores, catadoras de sururu. Com a pandemia muita gente acabou voltando para a atividade devido ao desemprego e o que temos vivenciado é a dificuldade de encontrar peixes, a lagoa cada vez mais profunda, os manguezais afundando, são 13 campos de futebol que sofreram afundamento”, afirma a presidente da Federação, Maria Aparecida da Silva.

Aparecida da Silva relata que há cerca de seis anos a produtividade vem caindo, com peixes cada vez mais escassos. “No início a gente via que a lagoa estava mudando, que as espécies estavam sumindo, ficando menores devido às dificuldades de reprodução e a gente não sabia o que era, hoje a gente entende que o fato de os manguezais estarem afundando compromete a reprodução das espécies. Os peixes que desovam lá não têm mais para onde ir. Nossa preocupação é que hoje temos, mas é preciso ser feito algo para o futuro, para que as espécies tenham onde se reproduzir e a pesca na região continue acontecendo”, pontua.

A representante dos pescadores afirma que deve acionar o poder público para a adoção de providências, segundo Aparecida, além da recuperação da área degradada é preciso dar suporte para que os profissionais se mantenham até a natureza se recuperar.

“Eu ouvi dizer que é possível recuperar o manguezal, espero que existam tecnologias suficientes para isso, mas também é preciso que as espécies se adaptem a todas essas mudanças e isso leva tempo. Enquanto isso, os pescadores precisam se manter, precisamos que os órgãos, o poder público, a Braskem sentem conosco para pensar em soluções, para discutir e encontrar formas de resolver a problemática para que no futuro não tenhamos uma degradação total da Lagoa Mundaú”, alerta.

Pesquisador defende intervenção urgente na Lagoa Mundaú

O pesquisador Emerson Soares reafirma sua posição em relação à Lagoa Mundaú, já noticiada pela Tribuna Independente. Conforme Soares, é preciso uma intervenção urgente para resolver os problemas da região que vão desde a poluição ao afundamento.

“Infelizmente isso impacta sim a questão reprodutiva porque boa parte dos animais eles procuram essas regiões mais próximas de estuário. Principalmente as espécies costeiras e espécies euralinas são aquelas espécies que migram da água doce pra água marinha. Então essas espécies geralmente reproduzem e vivem parte do ano nesses locais e justamente o complexo Lagunar que é uma região estuarina que é um ambiente propício para esses organismos e para alimentação deles também. Aquilo ali é um ambiente altamente degradado, que poderia ser realmente uma verdadeira fonte de nutrientes, de abrigo, de proteção para as espécies, mas infelizmente ali torna um ambiente insalubre tanto para as espécies como também para as pessoas que vivem na região”, afirma o pesquisador.

Emerson Soares detalha ainda que os problemas na Lagoa Mundaú não se limitam aos efeitos do afundamento de solo.

“Eu já venho falando e repito ali é uma bomba atômica. Tudo de problema vai começar a acontecer, porque ali é um depósito de esgoto industrial, esgoto doméstico, lançamento de afluentes difusos, que a gente desconhece a origem, metais pesados, agroquímicos, fertilizantes… E essa questão geológica que está acontecendo. O quanto essa questão geológica ali da Braskem pode ocasionar problema eu não posso dizer, mas eu sei que eles estão trabalhando e monitorando, mas realmente ali é uma região que ligada à questão de assoreamento, tudo isso que vai trazer danos e já está trazendo, enquanto o poder público não tiver realmente um cuidado, uma sensibilidade em tentar melhorar a situação e a própria população também que contribui para isso”, acrescenta.

A área de manguezal afetada por afundamento corresponde a 14 hectares. Em nota, a Braskem confirmou que cerca de 2% do mangue foi afetado.

“Em relação à lagoa, identificou-se o alagamento de menos de 2% da área total de mangue da região. O plano ambiental proposto pela Tetra Tech indica uma medida de recomposição de área igual de mangue que será oportunamente definida em conjunto com as autoridades, e a elaboração de um plano de monitoramento da biota”, diz a Braskem.

Conforme a petroquímica, o acordo assinado com os Ministérios Públicos Federal e do Estado de Alagoas em 2020 prevê recursos e tratativas nos aspectos sociais, ambientais e de mobilidade. A empresa que faz os estudos também ouviu a categoria de pescadores, segundo a empresa.

“A empresa Tetra Tech foi nomeada no acordo para realizar os estudos independentes para avaliar possíveis impactos ambientais na região, inclusive na lagoa Mundaú. Ao longo de 2021, a Tetra Tech realizou diversas reuniões com partes interessadas, entre elas, representantes dos pescadores por meio das colônias de pesca e sua federação, para apresentação e recebimento de contribuições sobre o escopo do estudo ambiental e dos resultados do diagnóstico. Adicionalmente, em setembro de 2021, a empresa realizou uma escuta formal pública”, pontua. 

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