Livro promete detalhes inéditos da mineração na capital

O Livro “Rasgando a Cortina dos $ilêncios”, com previsão de lançamento para junho deste ano, promete detalhes inéditos sobre a exploração de sal-gema em Maceió. Organizado por seis autores de diferentes áreas de atuação, o material afirma reunir análises técnicas sobre “o maior crime ambiental urbano do mundo”, que vitimou cerca de 60 mil pessoas em cinco bairros de Maceió.

O ambientalista José Geraldo Marques, o engenheiro civil Abel Galindo, a arquiteta e urbanista Isadora Padilha, o economista Elias Fragoso, Edson Bezerra e Claudio Vieira assinam o material.

Abel Galindo explica que a ideia surgiu há cerca de três anos, a partir de iniciativa de Elias Fragoso. “Nos encontramos numa livraria, eu e Elias há cerca de três anos e surgiu a ideia de debater o tema com base em tantas informações que temos sobre o assunto acerca desse problema que é a mineração desastrosa operada pela Braskem em Maceió”, destaca.

Para José Geraldo Marques, a iniciativa serve como uma denúncia a partir de diferentes perspectivas de profissionais de diferentes áreas do conhecimento como a Ecologia, Sociologia, Engenharia, Economia, Arquitetura e Urbanismo e Direito.

“Denunciando quase 50 anos de abusos e desmandos da Salgema/Braskem em seu território, além de erros, anomias e prevaricações dos poderes constituídos que deveriam velar por Alagoas. Apresentando informações inéditas, a obra revela fatos ocultados da sociedade, fake news tacitamente aceitas como verdades e mostra a luta por justiça em uma das capitais mais vulneráveis do Brasil, constituindo-se em ferramenta estratégica de luta contra a atuação predatória de multinacionais em territórios subdesenvolvidos”, diz o ambientalista.

A arquiteta Isadora Padilha aponta ainda que um dos aspectos que considera mais relevante na produção envolvem os dados econômicos sobre a representatividade da mineradora no cenário local.

“O livro traz depoimentos de gente diretamente envolvida com a questão desde o início. Dados econômicos, por exemplo, sobre a contribuição efetiva da empresa para o desenvolvimento econômico do estado. As minhas expectativas são que o livro seja uma arma para quem está na luta em relação a essa questão da mineração predatória da Braskem. Seja por reunir dados imprescindíveis num lugar só, com clareza e de forma didática, seja por trazer propostas para debate”, pontua.

“É difícil determinar futuro da região”, avalia engenheiro

O engenheiro Abel Galindo avalia que é difícil determinar o futuro da região uma vez que o processo de estabilização é variável em relação à movimentação de solo em cada ponto e o tempo em que cada área deve sofrer as influências.

“Temos dificuldades no acesso aos dados de movimentação. Até para os pesquisadores há uma dificuldade em saber como a subsidência vem se comportando. Aquelas áreas do Mutange, da lagoa, por exemplo, podem levar de dez a trinta anos para se estabilizarem como já foi dito anteriormente, em outros casos como o Pinheiro pode levar menos. A pergunta principal é o que será feito a partir daí. São questões levantadas pelo livro”, enfatiza.

AFUNDAMENTO

O processo de afundamento de solo, apontado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como decorrente da extração de sal-gema vem afetando direta e indiretamente mais de 60 mil moradores nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e em parte do Farol. A situação de calamidade pública dos bairros foi decretada no fim de 2018 e vem sendo renovada pela Prefeitura de Maceió diante da evolução do problema.

Segundo os estudos realizados pelo CPRM, 35 minas foram exploradas ao longo de quatro décadas pela Braskem sendo que seis delas se fundiram em cavidades que ultrapassam cem metros de largura. Regiões como o Mutange tiveram afundamentos de mais de 70cm por ano. Num dos trechos às margens da Lagoa Mundaú o avanço da água chegou a dois metros.

Em outras palavras, a exploração de sal-gema resultou em grandes vazios no subsolo a cerca de 1.000 metros profundidade, causando deformação das camadas de solo, movimentação e rachaduras em superfície.

Como indicação para conter o avanço do afundamento, a petroquímica foi obrigada a realizar o preenchimento de quatro cavidades com alto nível de instabilidade e risco de formação de sinkhole [buraco na superfície]. O processo foi iniciado em 2020 e pode levar até três anos para conclusão.

Em 3 de janeiro de 2020 um acordo judicial firmado entre órgãos de controle e a Braskem estabeleceu a retirada das áreas de maior criticidade dos bairros afetados. Já no início de 2021 todas as áreas tiveram a indicação de realocação e outras como os Flexais em Bebedouro seguem sendo afetadas pela problemática devido ao ilhamento social sem, contudo, haver definição se a comunidade será retirada do local. As ações, previstas no acordo de indenização das moradias se estendem até o fim de 2022. 

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