Falece em Maragogi a Mestra Dudé, última detentora em Alagoas do conhecimento do Auto de Natal

As redes sociais oficiais da Prefeitura de Maragogi amanheceram nesta segunda-feira, dia 20, com a tarja preta de luto em homenagem ao falecimento da Mestra Dudé, última detentora em Alagoas do conhecimento prático do Auto de Natal, conhecido como Lapinha. Maria José Ferreira, conhecida como a Dudé da Barra Grande, famosa pelos seus conhecimentos, concorria no ano de 2022 a Patrimônio Vivo de Alagoas pela Secretaria Estadual de Cultura. Seu legado foi relembrado horas depois de seu falecimento pela pesquisadora e historiadora Ismélia Tavares, que publicou um texto falando da perda da Mestra.

“Maragogi acorda mais triste nesta segunda-feira. Faleceu na tarde deste domingo, 19 de junho de 2022, Maria José Ferreira, a Mestra Dudé da Barra Grande. Descansou por volta das 15:48 horas, na UPA de Maragogi. O Secretário de Cultura e Esporte de Maragogi, José Carlos Vanderlei e todos os funcionários da Cultura, com muita dor pela perda, se solidarizam com familiares e amigos de Maria José Ferreira, a Dudé da Barra Grande”, lamentou Ismélia Tavares.

Maria José era Mestra de folguedos, e guardava na memória o Auto de natal chamado Lapinha, sendo a última detentora desse conhecimento em Alagoas. Dudé foi mestra e professora de Pastoril, ministrava grupos de baianas, lecionou durante meses o pastoril no município de Porto de Pedras, dançava, cantava e dividiu composições em parceria com o saudoso Mestre Tião do Samba de Matuto. Dudé estava concorrendo esse ano ao Patrimônio Vivo de Alagoas pela Secretaria do Estado de Cultura.

Segundo a historiadora, desde muito jovem, sempre participou dos folguedos em Maragogi. A Mestra Dudé trazia em sua bagagem de experiências pessoais, algumas brincadeiras da cultura popular, entre elas a Lapinha. 

“A Lapinha, por exemplo, configura-se como um auto de natal, conhecido também como teatro dramático por conter em sua estrutura de apresentação, encenações, cantos, danças e poesias recitadas. Consta que este Auto de natal teve seu início em Portugal por volta de 1584. “O folguedo já estava em processo de desaparecimento e sua única representante e detentora desse saber empírico estava em Maragogi”, salientou.

Para a pesquisadora, a cultura fica mais triste. “Maragogi perde mais uma estrela, mais uma riqueza patrimonial do Estado, que se despede para sempre, deixando saudades mas também um legado. A Lapinha de Dudé está registrado em filme e será publicado em livro num futuro próximo, transmitindo aos novos brincantes o repasse de seus saberes”.

“Certa vez, perguntei a Dudé qual a brincadeira que ela mais gostava de fazer e ela respondeu assim: “Gosto de todas as brincadeiras, mas acho a Lapinha muito importante e diferente, parece um teatro”. E acrescentou: “O pessoal me conhece e sabe que eu gosto de brincar, gosto de fazer o Pastoril, gosto de dançar na quadrilha de São João, gosto de dançar o Samba de Matuto, que é meu maior prazer, e gosto de fazer a Lapinha”, finaliza Ismélia Tavares.

Publicidade