No Brasil, mais de 23 mil pessoas aguardam por um transplante a cada ano, mas apenas a metade dos pacientes com morte encefálica chega a se tornar doador, conforme dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Em meio a esse cenário, o Setembro Verde chama a atenção para a importância da doação de órgãos e coloca em evidência o trabalho das comissões intra-hospitalares, que atuam na identificação de potenciais doadores e na comunicação dos casos à Central de Transplantes, etapa essencial para que o processo possa avançar.
Na prática, o trabalho da equipe multiprofissional, formada por médicos, profissionais de enfermagem, assistência social e psicologia, é essencial para salvar vidas. O esforço da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) da Unimed Maceió garante que cada caso seja avaliado individualmente. “É um trabalho conciso e de muita rigorosidade para estabelecer todos os critérios que levam ao diagnóstico de morte encefálica”, afirma Paula Rodas, gerente médica da emergência e UTI do Hospital Unimed Farol.
Ela explica que esse processo envolve não apenas rigor técnico, mas também sensibilidade humana: “Quando recebemos um paciente com esse diagnóstico, é sempre um momento delicado. Precisamos ter muito cuidado e acolher a família, para que ela consiga compreender o que está acontecendo e todos os procedimentos que ainda precisam ser realizados”, destaca Paula.
O protocolo é criterioso: são feitos dois exames clínicos, realizados por médicos diferentes e habilitados, que confirmam o estado de morte encefálica, também conhecida como morte cerebral. Em seguida, um exame complementar de imagem, como doppler transcraniano, eletroencefalograma ou angiografia cerebral, confirma a ausência de fluxo sanguíneo ou de atividade elétrica no cérebro, estabelecendo definitivamente o diagnóstico.
Após a conclusão de todas as etapas do protocolo, a comissão aciona a Central de Transplantes, responsável por organizar a fila única nacional. Em pouco mais de um ano, a Unimed Maceió já realizou duas captações de órgãos.
Impacto profundo
A doação de órgãos tem impacto profundo: um único doador falecido pode salvar mais de oito vidas, com a possibilidade de doar coração, pulmão, fígado, rins, pâncreas, córneas, intestino, pele, ossos e válvulas cardíacas. Já entre os doadores vivos, é possível doar um rim, medula óssea, parte do fígado (em torno de 70%) e parte do pulmão (em situações excepcionais).
Um ponto crítico é a recusa familiar: de acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), 57% das famílias alagoanas recusaram a doação em 2025 até o mês de junho. Já no contexto nacional, esse índice é de 45%. Por isso, é fundamental que cada pessoa manifeste previamente à família o desejo de ser doador. Hoje, não é necessário registro formal em documentos: basta comunicar aos familiares, que são os responsáveis legais pela autorização.
Até junho deste ano, Alagoas já havia realizado 58 transplantes. Atualmente, 565 pessoas aguardam na fila de espera no estado, sendo 17 para rim, 7 para fígado, 3 para coração e 538 para córnea. Esses pacientes são, em sua maioria, adultos; a única exceção está entre os que aguardam transplante de córnea, em que 26 são pediátricos.
A Unimed Maceió reforça que qualquer pessoa pode ser doadora, com exceção de casos de doenças infecciosas ativas ou câncer. A morte encefálica, que é a parada irreversível das funções cerebrais, permite a doação de órgãos e tecidos. A morte cardíaca, por sua vez, autoriza apenas a doação de tecidos. A doação não desfigura o corpo e não gera custo ou ganho material às famílias.