O município de Feira Grande/AL teve o privilégio de ver nascer uma de suas filhas cuja luz brilhou intensamente no cenário local, regional, estadual, nacional e internacional.  O calendário assinalava o dia 15 de agosto do ano de 1949, quando o casal Antônio José dos Santos e Josefa Rosa de Lira viu nascer mais uma filha, a quem dera o nome de Josefa Santos, que carinhosamente era chamada de Ceci, em função do desejo de seus pais para esse nome compusesse seu registro de nascimento, o que não se concretizara face a falha de memória, de boa comunicação e pressa para concluir o processo de registro. 

O cenário para o nascimento foi a casa situada na rua do Comércio, precisamente onde hoje está implantada a agência do Banco do Brasil daquela cidade. Criança inteligente e esforçada, a pequena Ceci iniciou seus estudos na escola rural de Olho D’Água do Meio, tendo como sua primeira professora a “Tia Florentino”, de fato sua tia – testemunha de sua luta e esforço para conquistar os espaços que o futuro lhe reservava, e motivadora para que estes espaços se concretizassem. 

Em 1960 Ceci, seus pais e irmãos foram morar em Maceió/AL, pois o Sr. Antônio José dos Santos ali se instalara para exercer atividades mercantis. Em 1966 retornara a Arapiraca/AL, onde estudou no Colégio São Francisco de Assis. Exerceu o magistério com esmero e carinho – experiência que ela relatava com muito orgulho. Ingressou na Faculdade de Medicina da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) após ter prestado seu primeiro vestibular, onde obteve toda sua formação acadêmica que a habilitou para o exercício da medicina – profissão que era sua vocação e que foi honrada em toda a sua vida. 

Fez residência médica no  Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro/RJ, assumindo a obstetrícia como ramo da medicina a realizá-la profissionalmente. Iniciou suas atividades profissionais na Casa de Saúde Neves Pinto, em Maceió, e, logo em seguida retornou para Arapiraca onde, durante mais de 20 anos, exerceu a Medicina com extrema dedicação e muito amor, tendo realizado milhares de partos e, por exercer a profissão com esmero e capacidade de “servir”, rendeu-lhe algumas centenas de afilhados(as) e compadres/comadres. 

A Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima e o Hospital Regional de Arapiraca foram seu permanente “celeiro profissional”, enriquecido por desenvolver atividades como conveniada junto a UNIMED, ao Banco do Brasil, à Caixa Econômica Federal, ao IPASEAL, aos Correios e, muito intensamente em seu consultório particular. Realizou seu sonho matrimonial com Juvenal Cunha, ainda quando estava realizando sua residência médica. Juvenal foi o companheiro com o qual construiu a família que é constituída de Adriana e Rodrigo como filho; Danilo, como genro; e Diana como neta. 

Talhada para servir à comunidade, em 1988, foi convocada para participar do processo eleitoral, tendo sido eleita vereadora com a maior votação obtida entre os concorrentes. Juntamente com Célia Rocha, também eleita no mesmo pleito, compôs a maior bancada feminina daquela casa, até a presente data. Foram quatro vigorosas mulheres que se destacaram no exercício da vereança, com ações parlamentares e políticas que redirecionaram a história política-administrativa de Arapiraca. 

Em 1989 participou ativamente da campanha de Mário Covas à Presidência da República. Em 1990 foi candidata a Deputada Estadual. Em 1992 foi reeleita vereadora e, por sua força, coragem e liderança, em 1994 disputou o mandato de deputada federal, tendo sido a primeira mulher de origem na região agrestina a conquistar espaço tão privilegiado e honroso, graças ao apoio e articulação da companheira Célia Rocha, sua co-irmã e das lideranças políticas de Arapiraca e do Agreste, destacando-se o senador Teotônio Vilela Filho como referência política e pessoal. Seu carisma pessoal, sua folha de serviços prestados, e, evidentemente, a confiança que seu povo lhe conferiu/consolidou, foram ingredientes constantes em toda sua vida, a lhes conferir espaço e luz própria a realçar sua grande obra enquanto vida lhe fora permitido ter. 

Em Brasília/DF descobriu ser capaz de permear os meandros do Poder Central (Ministérios, Secretarias, Palácio do Governo), valendo-lhe o título de “formiguinha”. Desta capacidade, e de sua condição de parlamentar governista – era filiada ao PSDB – Partido do então presidente Fernando Henrique Cardoso, conseguiu alocar recursos para Arapiraca, para a região Agrestina e para todas as regiões do estado de Alagoas, a resultar em obras estruturantes nas zonas urbana e rural de muitos municípios alagoanos. 

Ceci cultivou uma preferência especial por Arapiraca, pela região do Baixo São Francisco e pela região Agreste, sua principal base de sustentação política. Contou com o apoio inconteste do senador Teotônio Vilela Filho nas conquistas empreendidas e exercia o papel de catalisadora junto aos demais membros da bancada federal do estado de Alagoas. Teve participação ativa nas diversas instâncias da Câmara Federal, inclusive no cumprimento de missões internacionais, destacando-se sua participação na Conferência Internacional da Mulher, em Pequim, na China. 

Em 1996 contribuiu com a eleição da vereadora Célia Rocha para o cargo de prefeita do município de Arapiraca, através de seu empenho e com a demonstração de sua capacidade de representação na Câmara dos Deputados, onde destacou a importância de Arapiraca e região no cenário alagoano. 

Em 1998 foi reeleita deputada federal, com consagradora votação, representada por 55.000 votos (quase o dobro da votação da eleição de 1994). FalecimentoEm 16 de dezembro de 1998, após diplomada, teve sua vida ceifada em uma chacina promovida por quem não aceita perdas de espaço e poder, sobretudo porque referidas perdas foram para uma mulher que emergiu oriunda do interior do estado, construiu sua própria história de sucesso, e agregou outras valorosas mulheres neste contexto. 

Violentamente a trucidaram, numa manobra para dificultar a evolução de legítimas lideranças comprometida com o desenvolvimento e bem estar de nosso(as) concidadãos(ãs). Na chacina, mais três membros de sua família foram sacrificados – Juvenal Cunha, seu esposo; Iran, seu cunhado; e Ítala Neide, mãe de seu cunhado. A dor e o sofrimento se abateu sobre toda a sociedade alagoana e brasileira, porém, concretamente, apesar de toda a dimensão e representatividade da mulher-mãe, médica e política inserida nos meandros do poder situacionista/governista, não há visibilidade de ações finais que se permita assegurar ter sido feito justiça. Ceci legou à sociedade arapiraquense e alagoana um patrimônio de lealdade, trabalho, respeito e dignidade que necessita ser preservado. 

Homenagens

Ceci tem recebido várias homenagens, como nomes de ruas, avenidas, parques, loteamentos, edificações e, principalmente, a ternura permanente de familiares e amigos que guardam na memória o muito que ela representou e realizou. 

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