Em 2025, 690 alagoanas poderão ter câncer de mama. A estimativa é do Instituto Nacional do Câncer (Inca). No Brasil, esse número é de 73.610 novos casos. O dado representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos a cada grupo de 100 mil mulheres. Em Alagoas, a taxa significa que a cada 100 mil mulheres, 34,89 terão a doença. A faixa etária com maior prevalência de câncer de mama é acima de 50 anos.
Alagoas ocupa a 20ª posição no ranking nacional das estatísticas sobre câncer de mama. O Inca trabalha com estimativas, isto porque, segundo o Instituto, como o câncer não é uma doença de notificação obrigatória, não existem dados oficiais de incidência. As estimativas são divulgadas a cada triênio. As mais recentes são de 2023/2025. A tendência é de que os casos aumentem 25% na próxima década.
O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum em todo o mundo, representando cerca de um em cada três casos de câncer diagnosticados em mulheres no Brasil. No país, o câncer de mama só perde em incidência para o câncer de pele não melanoma.
As informações fornecidas pelo Inca servem de embasamento para o “Outubro Rosa”. A expressão é o mais conhecido sinal de alerta e conscientização das mulheres na luta contra o câncer de mama.
O Inca afirmou também que o câncer de mama é o mais incidente na população feminina do Brasil, ocupando o primeiro lugar (excetuando-se o câncer de pele não melanoma).
A médica mastologista da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, Lígia Teixeira, afirmou que a idade média de diagnóstico de câncer de mama no Brasil deve cair nos próximos anos.
Segundo a médica, que é especialista em oncoplastia e reconstrução mamária, existem ainda alguns entraves que distanciam as mulheres do diagnóstico precoce da doença, tais como a desinformação, o medo da dor no exame de mamografia, o medo de saber que tem câncer, os entraves geográficos de acesso aos exames e a má gestão dos recursos públicos foram citados pela mastologista.
“Hábitos saudáveis como a prática de exercícios físicos, alimentação equilibrada, rica em alimentos naturais e pobre em açúcar, por exemplo, evitam obesidade, que é um fator de risco para câncer de mama! afirmou Lígia Teixeira.
Enfermeira conta como venceu a doença e aderiu às canoas
A enfermeira Ruth Franca Cizino da Trindade, 63 anos, venceu a luta contra o câncer de mama e ressignificou sua vida. Docente aposentada da Universidade Federal de Alagoas, percebeu um nódulo na mama em 2015.
De imediato procurou um médico mastologista. Sem histórico de câncer na família, foi ao especialista por excesso de zelo. Entre março e abril daquele ano, foram realizados os exames e chegou-se ao diagnóstico conclusivo: era câncer de mama. Ela foi a primeira pessoa e, até então, única a receber um diagnóstico de câncer na família.
“Em maio de 2015, fiz a cirurgia do quadrante da mama esquerda, retirei um linfonodo e em junho comecei a quimioterapia. Em setembro e novembro fiz a radioterapia. Foram 28 sessões. Perdi o cabelo. Fiquei careca, mas enfrentei tudo sem drama, sem problemas. Não passei por uma história de sofrimento. Eu tinha um problema e precisava resolvê-lo. Nunca me senti uma pessoa doente. Não deixei de fazer o que eu gostava”, relatou.
Curada e com a vida ressignificada, Ruth Franca Cizino da Trindade transformou a doença em novas possibilidades. E uma nova paixão na vida: a canoagem.
Membro e voluntária do Projeto Lisa Flor, a enfermeira segue ajudando e encorajando outras mulheres que tiverem câncer de mama.
Mulheres têm chances de 10% a 12% de desenvolver enfermidade
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, toda mulher tem entre 10% e 12% de chance de desenvolver câncer de mama durante a vida. Por isso, a entidade recomenda que a partir dos 40 anos, as mulheres passem a fazer as primeiras e sucessivas mamografias anuais. Este é o exame essencial para o rastreamento de câncer de mama.
Para a entidade, é imprescindível a necessidade de acompanhamento regular e de exames periódicos. A ida periódica ao médico deve estar associada ao autocuidado, ao autoexame.
Os tipos de câncer de mama mais agressivos acontecem entre os 40 e 50 anos. Um levantamento, também validado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, revela aumento do número de casos graves da doença entre mulheres com 70 anos de idade ou mais. Outro levantamento aponta uma situação contrastante, e não menos preocupante com relação ao “rejuvenescimento” da doença: a incidência do câncer de mama entre pacientes mais jovens. Segundo dados analisados pela SBM, há crescimento de população abaixo de 49 anos com diagnóstico de câncer de mama no Brasil.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologista, o câncer de mama tem alguns sintomas característicos que podem servir como alerta. Modificação na mama como um caroço, um mamilo que entra na pele, é um dos sintomas.
Estado é pioneiro na iniciativa de criação de clube de canoagem
A idealização da criação do Clube de Canoagem João Tomasine nasceu, em Alagoas, em 2017 com a educadora física e fisioterapeuta Daniela C. Dantas Costa que conheceu o projeto de remadoras rosa em um evento da paracanoagem, em que atuava como classificadora funcional.
Na ocasião, surgiu a ideia de formar um grupo em Alagoas, visto que, no Nordeste, à época, não existia nenhuma equipe de canoagem que atendesse a este objetivo. Assim nasceu o projeto Lisa Flor, movimento de mulheres que tiveram câncer de mama, denominado “remadoras rosa”.
O Lisa Flor atende atualmente 36 mulheres. As mulheres que fazem parte do Projeto Lisa Flor são filiadas à International Breast Cancer Paddlers Commission (IBCPC) e à Comissão Internacional de Remadoras Sobreviventes de Câncer de Mama, além de estarem associadas ao Clube de Canoagem João Tomasini e à CBCA.
O Lisa Flor oferece a canoagem como prática de atividade física regular com o objetivo primeiro de reabilitação pós-tratamento do câncer de mama para prevenir e reduzir o linfedema pós-mastectomia, que é um quadro patológico crônico e progressivo, que gera déficit no equilíbrio das trocas de líquidos intersticiais, resultante principalmente da dissecção axilar do nódulo, da radioterapia na axila e da quimioterapia.
Outro benefício que o projeto oferece é a oportunidade para estas mulheres se manterem ativas, física, social e emocional contribuindo para uma melhor qualidade de vida, pois o câncer é uma doença que, ainda, carrega muitos estigmas. O grupo participa de competições locais e regionais na modalidade Dragon Boat e canoa polinésia.
Remadoras levam a sério o esporte nas águas
O Clube de Canoagem João Tomasini (CCJT) é uma organização social de direito privado, sem fins lucrativos, que recebeu uma qualificação jurídica concedida pela Administração Pública em 2021, presidido por Daniela C. Dantas Costa e por uma coordenação geral, formada pela capitã da equipe Rita Luiza Percia Name, segunda capitã Guendalina Lucas De Souza, manager Ruth Franca C. da Trindade, segunda manager Ivalda Bonfim de Gusmão e pela presidente do clube de canoagem João Tomasini.
Entre as atividades que fazem, as remadoras fazem alongamento, técnicas de remadas e canoagem propriamente dita. Ministram palestras, participam de roda de conversa sobre os benefícios da canoagem e compartilham histórias. O Lisa Flor é bastante dinâmico, sempre realiza atividades sociais, reuniões em grupo, avaliação e planejamento.
Em 2019, o grupo participou do 2º Festival Roama de Remadoras Rosa, em Paulo Afonso, na Bahia, e organizaram o primeiro evento “Rosa no Mar”, realizado na praia de Ponta Verde.
Também desde 2019, o Lisa Flor promove o “Festival Outubro Rosa”. O evento tem a dupla missão de promover a conscientização sobre o câncer de mama, incentivando homens e mulheres a realizarem o autoexame e buscarem o diagnóstico precoce e de divulgar e fomentar a prática de esportes aquáticos, com destaque para a canoagem em Dragon Boat e canoa polinésia e Stand Up Paddle.
Este ano, o 5º Festival Outubro Rosa – Floral será realizado de 18 a 21 de outubro no Motonáutica. Haverá a 2ª Regata Rosa, nos dias 18 e 19 e a 5ª edição do Lagoa Rosa, no dia 20.
Barco Dragão e pessoas que tiveram câncer de mama
A prática da canoagem e do Dragon Boat entre pessoas que enfrentaram o câncer de mama teve início em 1996, quando o Dr. McKenzie1, professor emérito em Cinesiologia e Medicina Esportiva na Universidade de Colúmbia Britânica, Canadá, introduziu essa modalidade.
Desde então, essa prática vem se expandindo em todo o mundo, proporcionando não apenas reabilitação física e emocional.
Em 2013, na Argentina, mulheres que passaram pela experiência do câncer de mama formaram a primeira equipe latino-americana, inspiradas pelo movimento “Abreast In A Boat”.
Atualmente, esse movimento se estende por seis países da América Latina.