A sustentabilidade tem se tornado um tema central em diversas áreas, especialmente na educação. Diante do agravamento dos problemas ambientais causados pela poluição e pelo descarte inadequado de resíduos, jovens de todo o mundo têm se mobilizado para desenvolver iniciativas que vão além da conscientização, apresentando soluções criativas e práticas para minimizar esses impactos.
A Escola Estadual Rosalvo Lobo, localizada no bairro da Jatiúca, em Maceió, tem se destacado pelo protagonismo de seus alunos, que, com o suporte dos professores, estão desenvolvendo projetos sustentáveis voltados para transformar materiais descartados em produtos úteis.
Entre essas iniciativas, se sobressai um projeto que combina criatividade, sustentabilidade e empreendedorismo, reaproveitando resíduos de maneira prática e funcional.
O projeto nasceu da iniciativa de um grupo de alunas, lideradas pela professora Tatiane de Omena Lima, que decidiram transformar um resíduo comumente descartado de forma inadequada em objetos de valor e beleza.
O desafio era o de transformar resíduos do cotidiano, a exemplo das cascas de ovos, em peças que não apenas encantassem pela estética, mas também fossem sustentáveis, aproveitando todo o seu potencial de reciclagem de forma criativa e responsável.
Kelly Alencar, uma das alunas idealizadoras do projeto, relata que a ideia surgiu após uma conversa com a coorientadora Marta Emília, empreendedora e proprietária de um ateliê de cerâmica.
“Marta trabalha com cerâmica, e pensamos em aplicar a mesma ideia, mas utilizando um material sustentável. Assim, minha parceira, Marcella Plácido, e eu tivemos a ideia de usar a casca de ovo, um resíduo comum que, até então, não tinha utilidade”, explica.
O processo de criação das bijuterias combina simplicidade e cuidado. As cascas de ovos são coletadas no refeitório da escola após o consumo das merendas.
“Primeiro, recolhemos as cascas e as higienizamos com água, vinagre e álcool. Depois, removemos a película interna, deixamos secar ao sol por dois dias e trituramos no liquidificador. A partir daí, começamos a confecção das peças”, detalha.
A ideia era utilizar a casca de ovo de forma semelhante à cerâmica, moldando-a para a produção de bijuterias e outros itens decorativos. Porém, como em todo projeto iniciante, desafios surgiram. A maior dificuldade, segundo Kelly, foi adquirir materiais como fechos, correntes e tintas, essenciais para a montagem das peças.
“Os custos desses materiais atrasaram o processo, mas nossas orientadoras, Tatiane e Marta, nos ajudaram, comprando os itens mais caros. Além disso, recebemos doações de miçangas, fios e correntes, o que facilitou nosso trabalho.”
Compromisso com o meio ambiente
Além de promover a reciclagem, o projeto carrega uma forte missão ambiental. As alunas estão cientes dos danos que o descarte inadequado de resíduos causa ao meio ambiente.
“O descarte de cascas de ovos em aterros contribui para a poluição do solo, tornando-o ácido e prejudicando o crescimento das plantas. Além disso, as cascas liberam metano, um gás que intensifica o aquecimento global, além de atrair insetos, ratos e mosquitos”, afirma.
Ao transformar resíduos que seriam descartados em lixo em produtos úteis e decorativos, o projeto busca reduzir esses impactos ambientais.
“Nosso trabalho é um exemplo de ecoempreendedorismo, onde buscamos gerar lucro de forma sustentável, sem prejudicar o meio ambiente. Cada peça que fazemos reflete esse propósito de cuidar do planeta enquanto criamos valor”, destaca.
Tatiane Lima, professora e orientadora do projeto, enfatiza a importância do trabalho desenvolvido pelas alunas.
“Elas começaram focando na produção de bijuterias, mas logo perceberam que a reutilização de materiais pode ser aplicada a muitos outros produtos. Hoje, o projeto já abrange itens como porta-joias, estátuas, vasos e outras peças decorativas”, explica.
Desenvolvimento pessoal e acadêmico
O impacto do projeto vai além da produção artesanal. Para as alunas, essa experiência trouxe não apenas conhecimento técnico, mas também crescimento pessoal e acadêmico.
Kelly afirma que, além de aprender sobre sustentabilidade e técnicas de produção, desenvolveu habilidades como liderança, comunicação, trabalho em equipe e resolução de problemas.
“Esse projeto abriu meus olhos para o empreendedorismo. Aprendi que, com dedicação, criatividade e esforço, podemos transformar uma ideia simples em algo incrível”, comenta.
Tatiane também percebeu o desenvolvimento das alunas. “No início, elas eram tímidas e pouco participativas em atividades em grupo. Mas, à medida que o projeto avançava, elas passaram a se expressar melhor, a colaborar de forma eficiente e a encontrar soluções criativas. Foi uma grande evolução para todas elas”, observa a professora.
Participar de feiras de ciência e eventos de empreendedorismo também proporcionou aprendizados valiosos. Kelly relembra: “Foi incrível apresentar nosso projeto em feiras, receber reconhecimento e perceber que nosso trabalho pode realmente fazer a diferença. Isso me motivou a continuar e buscar sempre mais.”
Reconhecimento
O projeto já conquistou diversos prêmios importantes, como o segundo lugar na Sinpete, o terceiro lugar na Mocitipeal e o primeiro lugar no Encontro Estudantil. Participar de eventos como a Sinpete (Feira de Ciências da Universidade Federal) e o Mocitipeal (em Arapiraca) tem sido uma oportunidade de dar visibilidade ao trabalho e compartilhar as ideias desenvolvidas.
Com o sucesso da iniciativa, as alunas estão expandindo suas produções e planejando novos horizontes. “Estamos desenvolvendo novos produtos, como itens decorativos, e queremos ampliar a produção. Além disso, pensamos em patentear nossas criações e, quem sabe, levar o projeto a uma escala maior”, revela Kelly.
O reconhecimento do trabalho também atraiu o apoio da Secretaria de Educação do Estado de Alagoas, que vem incentivando projetos de pesquisa nas escolas. Ricardo Lisboa, Superintendente de Desenvolvimento do Ensino Médio da Seduc, destaca a relevância dessas iniciativas.
“A Secretaria de Educação tem investido fortemente no fomento à pesquisa e ao empreendedorismo. O projeto das alunas é um exemplo de como a educação pode transformar realidades e contribuir para o desenvolvimento sustentável”, afirmou Lisboa.