Mineração seria causa de minas d’água

Um relatório técnico da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) sobre estudos feitos na região de Bebedouro revela a instabilidade do solo, possivelmente provocada pela mineração da Braskem, nas imediações e ao longo da Rua Marquês de Abrantes, na periferia de Maceió.

O documento, de 65 páginas, foi divulgado ontem pela Defensoria Pública do Estado (DP/AL), que solicitou à Ufal um estudo de caso no começo do ano. A universidade aceitou o desafio e realizou um diagnóstico sobre os eventos de instabilidade do solo e a surgência de água minando dentro e fora das casas da região.

Foram realizadas visitas in loco dos técnicos e professores da Ufal na Rua Marquês de Abrantes e na Travessa Padre Pinho, nos bairros da Chã de Bebedouro e Petrópolis, abrangendo a bacia hidrográfica do Riacho do Silva, que corta o Parque Municipal de Maceió em direção à Lagoa Mundaú.

Tragédia Anunciada

Para tentar evitar uma tragédia anunciada, os professores que assinam o relatório recomendaram a realocação das famílias residentes na região, alegando que os moradores correm risco de vida com a possibilidade de subsidência do solo, convivendo com minas d’água dentro e nas calçadas das casas.

Nas considerações finais do relatório, eles sugerem a retirada das populações expostas aos fatores de risco, podendo ser utilizado o Programa Habitacional do Município para a realocação das famílias. Entre os fatores de risco estão a subsidência, o colapso do solo e a surgência de água (minas) nas residências da Rua Marquês de Abrantes.

Os signatários do documento sugerem que os três fatores avaliados sejam inseridos como alvos de estudos na atualização do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), a ser realizado pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB) em 2025. O plano deverá fazer uma avaliação detalhada dos perigos identificados por Estudos Geofísicos (SEV) para mapeamento em subsuperfície e minerológicos em solo argiloso e de consistência muito mole.

A equipe técnica da Ufal responsável pelo relatório teve a coordenação da professora Regla Toujaguez e do professor Jonathan da Cunha Teixeira, do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (CECA) e do Centro de Tecnologia (CTEC). Também participaram a equipe técnica da Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de Maceió, composta por Adsson André da Silva Gomes, Arrysson Cardoso, Fernandja Campos, Hugo Carvalho e Guilherme Henrique Santos, além do geólogo Eduardo Bontempo e Clyvia Souza.

O relatório teve ainda a participação da equipe técnica do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), dos geólogos Tiago Antonelli (Chefe de Divisão de Geologia Aplicada) e Diogo Rodrigues Andrade da Silva (Chefe do Departamento de Gestão Territorial), e da equipe técnica da Defesa Civil Nacional, sob o comando do geólogo Érico de Castro Borges.

De acordo com o relatório, o estudo de caso foi uma solicitação feita à DPE por moradores da Rua Marquês de Abrantes, representados pelo líder comunitário Romualdo Oliveira. O estudo teve como objetivo inspecionar os problemas da região, possivelmente causados pela mineração de sal-gema pela Braskem.

Os estudos focaram na subsidência e no colapso do solo, além da surgência de água em dois locais: dentro e fora de residências da Rua Marquês de Abrantes, no Bairro Chã de Bebedouro, e no Conjunto Padre Pinho, no Bairro Petrópolis. Com base nas visitas, foi elaborado um relatório técnico para avaliar, de forma preliminar, porém integrada, o risco que os processos de colapso no solo e da surgência de água poderiam ocasionar para a população residente.

“Todo estudo foi feito seguindo diretrizes do mapeamento de perigo e risco do Serviço Geológico Brasileiro (SGB)”, asseguraram os signatários do relatório. Foi o SGB que confirmou a mineração predatória da Braskem como responsável pelo afundamento do solo de pelo menos cinco bairros de  Maceió: Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Farol. Desses, o Mutange foi praticamente riscado do mapa.

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