Alagoas não cansa de impressionar: das belezas naturais à desigualdade social, da expressão artística à política nacional, da violência institucionalizada à gastronomia sem igual. Sem esforço, habituamo-nos aos extremos – para o bem e para o mal. Uma característica bem brasileira, por sinal.
De olho no lado bom, há tempos penso em elaborar texto sobre um alagoano cuja atuação profissional no campo artístico representa com maestria a cepa boa do DNA local sob os holofotes da audiência nacional.
Esqueça as “gracinhas” de Carlinhos Maia ou Ed Gama, falo do músico, arranjador e produtor Fernando Nunes cuja batuta responde há alguns anos pela direção musical do programa Altas Horas, exibido nas noites de sábado na Rede Globo.
Além de integrar o aparato de divulgação de outros produtos da casa, o entretenimento audiovisual sob comando de Serginho Groismann mira em especial as atrações musicais. O formato de auditório regido pelo paulistano – desde a época do Matéria Prima (TVE) e depois no Programa Livre (SBT) – combina plateia juvenil e artistas do entretenimento em geral, em especial os representantes de vertentes populares do cancioneiro nacional.
Iminentemente um baixista, ele também acumula a tarefa de escrever (ou transcrever) os arranjos que, a cada semana, variam entre os gêneros mais distintos: da Jovem Guarda à música sertaneja; do pop-rock a MPB, do forró ao funk carioca.
O episódio veiculado no último dia 11 de janeiro testificou a diversidade da pauta. Com o tema “Anos 80”, o passatempo televisivo montou paleta com sonoridades, digamos, bem heterogêneas. A maçaroca juntou Trio Parada Dura, Flávio Venturini, Fausto Fawcett, Beto Barbosa, Baby Consuelo, Plebe Rude e até Mao, vocalista da banda punk Garotos Podres.
Na tela, Fernando surge como figura simpática, a empunhar o contrabaixo de modo discreto – mesmo com a pinta de artista incrementada por óculos de armação vistosa e madeixas aloiradas no cabelo ondulado –, aparece, em geral, sentado ao lado dos músicos sob sua liderança.
No fervor do axé, tocou com Luiz Caldas, Margareth Menezes e Sarajane. A mudança para o Rio de Janeiro, nos anos 1990, elevou o sarrafo: de Ivan Lins a Cassia Eller, de Beto Guedes a Nando Reis – a mais alta constelação da música brasileira passou a requisitá-lo, inclusive como produtor musical. Na banda de Zeca Baleiro, por exemplo, é fichado há mais de 20 anos.
Alagoas de corpo ou alma
Mesmo a rodar palcos e estúdios pelo Brasil e o mundo, o trânsito por Alagoas continua constante em corpo ou alma. A produção autoral evidencia traços e passagens explicitamente inspirada pela cultura local. E isso inclui reconhecer os recursos humanos.
Quando passa por aqui, Nunes arregimenta os amigos de longa data para projetos e apresentações. Ciente do talento extraordinário de conterrâneos, convida colegas para serem substitutos temporários na banda do programa. O baixista Felipe Barros, o percussionista China Cunha e o guitarrista Norberto Vinhas – goiano graduado em Música pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) – sobem ao palco do Altas Horas com frequência, muitas vezes juntos numa mesma edição.
Enfim, para conhecer mais sobre o curioso percurso artístico de Fernando Nunes, vale clicar na divertida entrevista concedida ao podcast Amplifica, na qual ele repassa lances sobre a atuação prolífica e diversificada que dignamente espalhou o nome de Alagoas por onde tocou.
Fonte : Blog Maçaroca